quinta-feira, 23 de julho de 2009

Carta para o céu

Tinha 16 anos... A fatídica notícia chagava... A morte da minha avó. A morte do meu ídolo. A minha ciganinha, como lhe chamava, depois de resistir heroicamente 10 anos a uma hepatite b, sucumbia numa cama de hospital... E eu recebi a notícia em primeira mão... Eu tratei de tudo no hospital, iluminada por uma maturidade que desconhecia em mim... Ela não queria uma capela mortuária, sempre mo disse... queria ser velada em sua casa. Assim foi... dei instruções para que assim fosse. Tinha apenas 16 anos... Mas até o velório da minha ciganinha foi liderado por mim... Já em casa, e com os adultos a assumirem o comando do funeral, chegou a altura de escrever no cartão do meu ramo de flores uma mensagem, aqui vos deixo a que escrevi. Este é o meu blog, e embora sendo triste, não podia passar sem deixar uma homenagem ao meu maior ídolo, a minha avó e madrinha, que vive dentro de mim, embora a sua voz e o seu rosto, se diluam na minha traiçoeira memória...

Carta para o céu

Avó:
Lembro-me bem dos teus olhos,
Sempre tão doces e meigos,
Postos em mim.
Abrigada no teu regaço
Fixava teus lábios
Que começavam:
«Era uma vez...»
Mais uma história,
Mais um Improviso.
Nunca foste à escola!
Onde apredeste essas histórias?
Onde aprendeste a inventá-las?
Agora choro-te
E lembro-te,
Adormecida na fúnebre sala de visitas.
Esperava-te acordar,
Para me contares mais uma história...
Mas não acordaste.
Não mais ouvi teus lábios:
«Era uma vez uma princesa,
De um reino Longínquo.»
Choro lágrimas de silêncio.
Até breve.

Da tua neta

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