sexta-feira, 17 de maio de 2013

Peças do Baú... 3

(Texto escrito em Maio de 2009)

A época arrastava-se agora muito perto do final…

A equipa sénior participava num torneio de encerramento, com vista a dar-lhes minutos de jogo. Este torneio havia sido aberto a algumas equipas da 1ª Divisão, o que diminuía as nossas hipóteses de êxito desportivo. Mas, também não era ele que me motivava… O meu grande objetivo era recuperar a equipa como um todo, e o grande desafio era fazê-lo sem o auxílio das vitórias. Esta é uma falsa união, uma falsa equipa. São laços fáceis de quebrar…

Jogávamos hoje frente à formação do Valongo, onde nas últimas 2 épocas, acumulamos 6 derrotas em 6 jogos disputados, para completar o enquadramento, ainda não havíamos vencido neste Torneio de Encerramento.

Este era o penúltimo jogo de uma época que teimava não terminar, de uma pesada e atroz época, onde tudo nos aconteceu…

De qualquer maneira, sentia a equipa mais próxima, sentia uma união a surgir, ainda dissimulada entre as raízes deixadas pelos desaguisados ao longo da época. Mas estava lá… Eu reconheci-a… Um pequeno orgulho apoderou-se de mim… Afinal estava a conseguir, embora de forma discreta, o grande objetivo deste final de época.

Conheço esta equipa, de uma forma que nem elas se conhecem… Por norma, antecipo as suas atitudes, leio os seus medos, e procuro atuar antes dos problemas surgirem… É mais fácil quando se conhece alguém há muito tempo…

Mesmo assim, longe de mim imaginar o que me haviam preparado.

Ao entrar no balneário para a minha palestra, a equipa, abraçada em minha volta, saltava, cantando uma música que me era dedicada em momentos de glória: “ La la la… Mourinha! La la la Guerreira… La la la… amiga, eterna e verdadeira… “ Ouvi várias vezes esta música a cada título conquistado, mas nunca em um momento de insucesso…
Fiquei sem reação… Sim! Eu fiquei sem reação…

A palestra foi mais uma vez no sentido da união do grupo, e nas vitórias como fruto dessa união. Lembrei-lhes que havíamos tido uma boa exibição no dia anterior, frente a uma equipa da 1ª Divisão, mas que no momento decisivo, voltamos a trazer para a casa a folha amarela, a folha da derrota. Expliquei-lhes porque não cantei com elas a minha música. Expliquei-lhes que a queria guardar para o final do jogo, para quando nos déssemos o momento que tanto merecíamos.

Antes do tradicional grito, a capitã levanta-se e lê um texto… Uma metáfora, sobre crias e progenitora, sobre pequenas asas que crescem, sobre aprender a voar e cair, sobre a asa da progenitora a amparar as quedas, sobre aprender a voar e procurar o próprio ninho, mas sobretudo, sobre nunca esquecer o chamamento da progenitora… Foi um lindo texto… Era a nossa história…

No final, grito de guerra! Grito em força!

Saímos do balneário e prossegue o nosso protocolo: elas começam a aquecer e eu venho ao exterior, fumar o meu precioso e sagrado cigarro antes do jogo. A capitã invade o meu momento… E sem nada me explicar, levanta-me a manga esquerda da t-shirt e escreve no meu braço: 
           E
           Q
           U
            I
           P
           A
Apenas concluiu com um: “Vais perceber!”

Alheei-me da minha tatuagem improvisada e continuei a degustar o meu momento.

Ao entrar em campo, foi logo visível na bancada uma enorme faixa com um “Obrigado por tudo mãe”, estava assinado por toda a equipa.

A emoção começava a apoderar-se de mim de forma ameaçadora!

Mas mais do que a emoção, inquietava-me a admiração. Porquê agora no final da época?! Porquê agora, altura em que os êxitos não imperam?

Mais atenta, reparei que todas elas tinham algo escrito no braço esquerdo, julguei que fosse a palavra “EQUIPA”, tal como a capitã havia escrito no meu.

Mas não!!!

Todas elas tinham no seu braço esquerdo, uma palavra diferente. Aproximei-me para ver melhor… União, Maturidade, Garra, Luta, Força, Defesa, Atitude, Vontade… Eram os meus chavões, as palavras que prolifero sem cessar nos meus treinos e nas minhas palestras… Eram as minhas palavras…

Tentava empurrar a lágrima para dentro…

Os árbitros sorriam enternecidos, as adversárias comentavam com respeito, e elas aqueciam sem despudor…

O discurso no banco, antes do jogo, foi simples e dos mais fáceis da minha carreira: “ Nos vossos braços está tudo o que vocês precisam para atingir o sucesso. Mas, os vossos braços sozinhos não valem nada, são palavras soltas… Todos juntos são o segredo” e levanto a manga esquerda da minha camisola, onde elas leram a palavra “EQUIPA”. Os olhos delas saltavam para longe da apatia que lhes havia conhecido ao longo da época… Ali, bem à minha frente, estava a minha equipa, de novo, a minha equipa.

Eu assistia a tudo inchada de orgulho… Um orgulho duplo. O orgulho por elas, e por as ter reencontrado, porque as amo… Sim, porque as amo como equipa. E claro, um orgulho pessoal, porque tinha afinal, cumprido o meu objetivo.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Testemunhos - VIII

Maldito seja o dicionário que não tem palavras que cheguem... Há momentos que não têm tradução, há vidas que não têm legendas... Por mais vírgulas que acrescentemos, haverá sempre palavras que não foram ditas... Haverá sempre emoções que ficaram por descrever... Por muito que o lápis rabisque, jamais ficará escrito tudo o que significamos...

Talvez seja mais fácil dizê-lo a cantar, escrever nunca foi o meu forte! Só quero agradecer por fazerem parte da minha vida. Cresci e aprendi convosco o verdadeiro significado de união, superação e amizade. Fomos, somos e seremos uma família. Um pequeno testemunho mas um grande sentimento. Saudades*"

quarta-feira, 27 de março de 2013

Peças do baú... 2

 Há momentos na vida de um treinador, em que o lado humano e pessoal que vive dentro de nós, trai a força e a carapaça com que nos pintamos... Talvez nem todos os tenham... Talvez nem todos, ainda, os tenham tido... Eu tive!
A época 2009/2010 foi terminada em braços... Como um atleta carregado até cortar a meta...Só pelo orgulho e o virtuosismo de a cortar... Só para não ter desistido...
Esta época foi assim... terminada a rastejar... Nestas alturas, encontrar quem salte para a pista e nos abrace não é fácil...
Para mim só fazia sentido ser amparada por quem nunca me faltou. Se não viesse dali, não viria de lado nenhum...
Depois de uma semana de ausência aos treinos... A primeira de uma vida... Senti que não podia deixar a equipa a meio, não podia abandoná-la. Se o momento estava pesado para mim, o abandono a meio da época podia ser ainda mais desastroso... Decidi que terminaria a época!
No dia do jogo, este foi o cartaz que li quando entrei no pavilhão... Ali senti que valia a pena... Que tinha feito a escolha certa.

Quando a equipa entrou para o aquecimento, todas sem excepção, tinham esta pequena enorme "tatuagem" no braço direito... Já é mágico... Jogaram com ela sem pudor... Senti até orgulho na homenagem, exibindo-a  com charme... Para mim, claro que foi mágico... Principalmente, porque estes braços já não eram das meninas... Estes braços descomplexados, eram da minha equipa sénior...

Testemunhos - VII

Mais uma vez o tempo se esbarra com a intensidade...Sempre o tempo a nortear as nossas vidas...  Poucos momentos... poucos minutos... Ás vezes, por descuido, por demasiada ocupação... o tempo traduz-se em pouca atenção. Fica-nos muitas vezes o sentimento infame, que podíamos ter feito mais, ter sido mais, ter dado mais... Mas mais uma vez o tempo emerge, para nos lembrar que o passado é intocável.
Vindo de lugares recônditos,  que muitas vezes nos esquecemos de ver, o sentimento de gratidão... esse mesmo... que tantas vezes não vimos naqueles que nos esbarram a visão...
A treinadora que fui, aprendeu muitas destas lições...Algumas vezes pedi desculpa, hoje digo obrigado!


"Ainda me lembro do meu primeiro dia, quando cheguei ao pavilhão para iniciar um novo projecto que tinha ambicionado na minha vida. Antes de ir pensei que poderia ser difícil por diversas razões, mas depressa tudo o que parecia difícil se tornou fácil. Conheci pessoas fantásticas e juntamente com todas vocês conheci o que é o verdadeiro “ espírito de equipa”, esse mesmo que me fazia dar o “tudo por tudo” e que nunca me fez desistir ultrapassando barreiras que ainda não tinha sido capaz de ultrapassar, vivendo momentos únicos que pretendo levar comigo no “livro das recordações”.
Cresci muito com todas vocês, mas queria agradecer especialmente a minha treinadora que para além de treinadora é uma verdadeira amiga OBRIGADA!
Um por todos e todos por um sempre….."

terça-feira, 26 de março de 2013

Testemunhos - VI

Porque quando caminhamos, nem sempre encontramos a direcção certa... Nem sempre pedimos informações às pessoas certas... E no palco... aí, definitivamente não há músico que não toque uma nota em falso... não há actor que não falhe uma deixa...
Que nos reste o mísero prémio de consolação, de saber que demos o nosso melhor... E a nota... a deixa... não falhamos de propósito...
Ao jeito do fado, lembrar: "Quem vier por bem, que entre"




" E lá fomos nós... em busca de melhorar o pouco muito que sabíamos.
À partida, (calções, t-shirt e sapatilhas no saco) o ambiente não desiludiu, éramos nós equipa que caminhávamos para uma experiência deveras prometedora, íamos ser acolhidas no antro do basquetebol português a que poucas têm acesso.
Os treinos foram tomando forma, sem que interiormente, nenhuma ,com quase toda a certeza, se questionasse se era aquele o caminho que iludidamente queríamos apreciar. Chegaram os jogos, contudo, aquele não era o “jogo” que guardávamos com saudade e conhecíamos, não foi com certeza o palco dos nossos anseios, as “lutas” que nos queríamos deparar.
E juntas descobrimos que mais do que basquetebol jogar, juntas como equipa querias era num campo, balneário, treino, jogo coabitar.
Talvez um dia... o NÓS irá voltar, com propriedade conhecida, sem medo da investida, mesmo sem craques apresentar, um todo se irá mostrar!"

Peças do baú... 1


7 de Abril de 2009… é o que se lê no canto da carta que aqui vou deixar. Lembro-me vagamente desta altura… Eram tempos duros para mim… A época estava demasiado pesada… Pelo texto, deve ter sido o dia em que comuniquei à equipa que deixaria o basket no final da época… Não tenho nenhuma imagem dessa conversa… apagou-se… Então, presumo que no dia 8, encontrei esta carta no bolso do meu blusão:

“Hoje quando te vi entrar no balneário senti um medo familiar… o medo que em mim criaste há um ano atrás quando ameaças-te deixar-nos… Senti-o, porque o teu olhar o anunciava desde que entraste no pavilhão…
Sei que a tua dor é imensa e que te sentes apunhalada pelas filhas de há 9 anos… Não sou uma delas… infelizmente… Mas, como elas, devo-te tudo o que sei… o pouco que consigo por em campo foste tu que crias-te… a vontade que hoje tenho de lutar e vencer foste tu que inspiraste… o momento mais feliz da minha vida foi ao teu lado que vivi… Um dia, daqui a uns anos, vou recordar-te como “aquela que me ensinou a lutar até ao fim, vencer e mesmo assim nunca ficar satisfeita”… Mostraste-me o quão bem sabe vencer… Mostraste-me o que é uma equipa… Mostraste-me que não há nada melhor que as duas coisas juntas… E agora deixas-nos… Deixas-me… Como dizia a Diana: “Não vou ter outra treinadora”… Faço dela as minhas palavras… Tu és e sempre serás a minha treinadora… Tal como esta sempre será (apesar de tudo) atua equipa…
Sei que isto aconteceu sem o teu consentimento… contra a tua vontade… Desculpa o tanto que te esforçaste em vão… Desculpa os problemas que tiveste por nós… Desculpa não termos sido o que tu merecias que fossemos… Desculpa…
Gostava que o tempo voltasse atrás e tivéssemos de novo aquela equipa… Tivéssemos de novo a garantia que tu serias a nossa líder… A garantia que íamos jogar basket como e com quem gostamos…
Gostava que entendesses que há pessoas que te querem aqui… Que te dão o valor que tu mereces… uma que até recusou a Liga Profissional por ti… ela joga por ti… eu jogo por ti… Nunca te esqueças disso… És, e sempre serás a nossa MOURINHA…."

Testemunhos V

Se no nosso caminho houver vestígios, pequenos que sejam, de tudo o que vivemos... então é porque valeu a pena...


"Explicar uma experiência que comecei a viver há 13/14 anos atrás é, a meu ver, bastante complicado. Agora com 23 anos de idade (e apesar de jovem) vejo o mundo de forma diferente do que via com 10/11 anos de idade, contudo tentarei explicar como me sentia nesse tempo refutando como vejo agora. Teria os meus 9 anos de idade quando percebi que o basket era a minha paixão, comecei a jogar no clube B.C.G. e simplesmente adorava, no entanto quando me tornei iniciada fui obrigada a mudar de clube, pois já não poderia jogar numa equipa mista. Confesso agora, pela primeira vez, que não fiquei nada contente de ir para o J.B.G., pois iria mudar de equipa e de treinador. Apesar da relutância, comecei logo a habituar-me à nova equipa e lá tive grandes memórias. Acho que me posso gabar de me ter dado com toda a gente da equipa, umas mais que outras, mas no entanto nunca tive atritos com ninguém. E considero este facto bastante importante, porque éramos um grupo de raparigas adolescentes que conviviam, pelo menos, 4 dias por semana, logo pequenos atritos eram a coisa mais natural. Mas também refiro aqui que a treinadora sempre teve atenção em criar o melhor ambiente possível. Foi com esta equipa que cresci e aprendi o que significa espírito de equipa. Infelizmente fui obrigada a parar dois anos, e o facto de querer voltar acho que mostra o quanto gostava do desporto e das pessoas. No entanto, as pessoas mudam, enfrentamos problemas e mudamos os caminhos na nossa vida. Na minha opinião as coisas nunca serão como dantes, porque já não somos crianças, já temos outros objectivos na vida e, muitas de nós, já temos os caminhos traços. Mas não vejo isto como algo negativo, pois isto sim é a vida! Nada dura para sempre e por muito que se tente não conseguimos igualar o passado. É por isso que temos que seguir em frente e apenas recordar com um sorriso os momentos que passamos. Acho que é perceptível que gostei do tempo que passei com esta equipa, pois pude jogar o desporto que adoro, passei por grandes momentos e conheci a pessoa que agora chamo de irmã."

Testemunhos - IV

Ler um testemunho destes, é mágico de todas as maneiras que se possa dissecá-lo... mas a mais pura magia, só eu e este mulher linda percebemos... Porque encontro pedaços de mim a cada frase que agora é dela... Pensa com coisas que eu disse, sente com sentimentos que lhe dei...



"Passado tanto tempo consigo sentir, ainda hoje o cheiro do primeiro pavilhão em que treinei e todo o medo que senti nesse primeiro treino que fiz com vocês… Cheguei tarde, mas muito a tempo de fazer parte da família… Pois nunca ninguém ficou de fora, eu não fui excepção… Muito, muito obrigada por isso! Lembro me perfeitamente de como a nossa treinadora me fez ir ao primeiro treino “Sexta-feira em Creixomil, estou à tua espera!”… Não há um dia que eu não agradeça isso e deseje que tivesse acontecido antes… Mas aconteceu, e é isso que me faz saber e ser o que sou hoje… A nossa equipa mudou-me… Talvez tenhas conseguido “tornar me um ser humano pior” como querias… Mas mais importante de tudo aprendi a lutar por um sonho, a correr mais do que as nossas pernas aguentavam e que o banco também joga… Tudo o que me ensinaram e deram está em cada molécula do que sou, todas vocês fizeram um bocadinho de mim e todos os dias, sem exceção, penso em nós… Passado tanto tempo lembro me muito pouco dos jogos, mas lembro me muito bem das brincadeiras, dos treinos, das conversas e palhaçadas no balneário… Porque no fundo a amizade é que tornava tudo tão especial… Claro que foi o basquetebol que juntou, mas com o tempo, era a nossa amizade que nos mantinha lá… Contra tudo e todos! Confiaste em mim de uma forma que para mim nunca fez sentido… E isso fez-me perceber como jogadora, mas acima de tudo como pessoa, que eu valia mais do alguma vez achei… E hoje, sempre que sinto medo ou insegurança lembro-me do que me disseste uma vez relativamente a um desempenho meu num jogo “Isto já não é uma questão de confiares em ti como jogadora, mas de confiares em ti como pessoa, como profissional! Já não te afecta só no jogo, afeta-te a todos os níveis da tua vida”… E era verdade, claro… Ainda o é. E passado tanto tempo, ainda não sei como resolve-lo… Fui feliz com vocês como nunca achei que podia sê-lo… Se gostava de voltar atrás no tempo e puder desfrutar de tudo outra vez?? Claro! Dava a minha mão esquerda para isso! Se mudava alguma coisa?? Claro! Gostava de saber o que sei hoje, ter a maturidade que tenho hoje e saber a falta que vocês me fazem! No entanto resta-me, tal como a todas vocês, recordar e ficar com a lágrima solta, prestes a cair quando penso em tudo o que passamos juntas. Hoje, ouvindo a nossa música ainda acredito que nós podemos voar!!"

Testemunhos - III

Quando surgiu a ideia de colocar no meu Blog alguns testemunhos das mulheres que foram outrora as minhas pitas, disse-lhes que o texto seria anónimo, que não mencionaria o nome delas. E não mencionarei... Mas para quê?? A sua identidade está em cada linha...
Este testemunho chega de outro país... de longe... de alguém que teve que nos deixar forçadamente, embora tivesse sido a sua escolha. De longe enviava textos para serem lidos no balneário... Mensagens carregadas de sentimentos de força e saudade... Dos seres humanos mais genuínos que alguma vez conheci...


"Depois de ler o testemunho da nossa eterna capitã, fica muito pouco por dizer, o sentimento é tão mutuo.
Recuando pouco mais de 3 anos, lembro-me perfeitamente de quando soube que o meu futuro me iria trazer para uma nova aventura, para longe de tudo que estava habituada. Apesar de já esperar por esse momento, e saber que seria o melhor para mim, fiquei aterrorizada pelo que estava a sentir e pelo que estava para vir.
Era o meu primeiro ano de sénior, e estava totalmente eufórica por percorrer todos os escalões, sempre tinha sonhado com isso, apesar de ter feito parte da equipa anteriormente, quem não sonhava ser uma das 'sobreviventes' neste caminho? Pois, eu sonhava, ainda hoje o digo e quando falo de basquetebol, as lágrimas ficam no canto do olho, tímidas com medo, porque sei que qualquer pessoa que eu conte, que não tenha feito parte deste caminho, não irá entender na totalidade as minhas palavras.
Mas vocês, a minha eterna equipa, todas que fizeram parte, entendem...
Entendem o que é sentir orgulho em ter crescido num ambiente tão lindo como o nosso. Entendem o que sinto quando se grita 'Pela cidade berço', esperando ouvir uma equipa inteira completar. Entendem o que é ficar sem força dentro de campo porque o jogo não está a correr como deveria e de repente uma voz dizer para levantarmos a cabeça que tudo vai correr bem, que sabemos como fazer aquela 'porra', para lutarmos e nunca desistirmos. Entendem o que é ouvir uma voz dizer-nos que  em condições normais seremos campeãs  e que em condições anormais também seremos campeãs. Entendem o que é ter sempre alguém
que acredita em nós, sempre!
E sinto muito por quem não conheceu ainda esta enorme voz, que continua a sondar a minha cabeça em todos os momentos da minha vida, com as mesmas palavras de força, agora em circunstancias diferentes, porque foi isto que nos ensinou, a lutar e nunca desistir em alguma circunstancia da nossa vida.
Lembro-me de uma frase 'posso não estar a criar jogadoras de uma vida, mas com certeza estou a criar pessoas para a vida'!
E sem dúvida que era isto que distinguia a 'minha treinadora' de todas as outras, ela não se preocupou nunca em apenas nos criar como jogadoras, ela sempre quis criar 'bons seres humanos', sempre nos quis transmitir tudo que sabia para nos preparar para a vida, para tudo que vinha, e a verdade, é que uso tudo isso todos os dias, porque faz parte de quem sou e não sei como seria se assim não fosse.
Quando falo em mulheres da minha vida, não me fico pela minha mãe, porque claramente em toda a minha vida, eu tive uma mãe em casa à espera no fim dos treinos, e outra a qual chamava e sempre chamarei de coach.
Já não é a primeira vez que o digo, a eterna capitã e a quem tenho o orgulho de chamar melhor amiga, e a minha treinadora, são grandes responsáveis em tudo que faço e como faço. Não esquecendo o nome de cada uma que fez parte, porque trago em mim um pouco de cada uma de vocês e serão eternamente a minha equipa e só vocês faziam a magia no basket, sim quando digo só vocês, I mean it, porque quando cá cheguei nada do basket ou equipa me pareceu igual, porque a cara que comandava não era
a mesma, as caras de quem lutava comigo e por mim, não eram as mesmas, e nem mesmo o espírito  e sabem porque?
Porque fomos únicas. Porque há frases que ficam, e 'juntas estaremos, juntas venceremos' será uma delas.
Obrigada a cada uma de vocês por terem feito a minha infância a melhor que poderia pedir, com dificuldades , não houve um dia que me sentisse menor perto de vocês  e obrigada a ti, mãe, coach e eterna amiga, por me teres transmitido tanto, espero um dia puder transmitir a alguém tudo que tu transmitiste.
'I believe I can fly!'"

segunda-feira, 25 de março de 2013

Testemunhos - II


Esta mulher conheceu-nos já nos últimos tempos... Poucos treinos... Minutos de jogo: quase nenhuns... Mesmo assim, sabe muito bem saber que não é a quantidade de minutos que gravamos nos outros, mas a qualidade e a intensidade de todos os que vivemos...





"Cheguei a este país e estava só... Mas quando cheguei a esta equipa, que me recebeu de abraços abertos, senti que tinha encontrado uma segunda família. Estava num mau momento, mas quando estava a com elas e a jogar, sentia-me muito feliz... Os concelhos, as brincadeiras... nunca vou me esquecer destes momentos...e a nossa treinadora foi uma mãe para mim, ajudou-me a crescer e a ultrapassar os momentos mais complicados da minha vida... Fazia tudo para voltar a trás, para viver esses momentos outra vez... Espero um dia voltar a ver-nos todas juntas...

Está tudo gravado no meu coração... O nome de cada uma... Equipa para sempre."