segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O meu perfil


Há algum tempo atrás, fui convidada a participar num programa de uma rádio local. O objectivo era falar sobre o livro que estou a escrever, “História de uma treinadora que é mulher”. Inevitavelmente, a jornalista acabou por fazer referência a este Blog. Entre muitas perguntas, houve uma em particular, que me chamou a atenção e me surpreendeu…Começou por citar o que eu havia escrito no meu perfil, e desafiou-me a explicar…
Mas não só a jornalista, em conversas, várias pessoas acharam curiosa a descrição, e me perguntavam, onde queria chegar com aquilo…
Pois então…
O Blog chama-se atrás de um nome, e a ideia é mostrar a mulher que vive por trás da treinadora, que no fundo, é exactamente a mesma pessoa, os intransigentes olhos do outros, é que nem se dão ao trabalho de a procurar.
A verdade, é que penso que é esta a imagem que crio nas pessoas. Não penso, crio mesmo.
Arrogante, antipática, com a mania, nariz empinado e não desço do meu pedestal...
Muitos foram os que afirmaram tal perfil antecipado, e inúmeras foram as vezes que ouvi a frase: «não era mesmo esta a imagem que tinha de ti» Explicada a forma como termina a caracterização do meu perfil: «Pelo menos é o que diz quem não me conhece»
Mas para mim, é importante ir mais além…
Porque criei essa imagem, se para a maioria das pessoas, ela não corresponde à realidade?
Claro que tenho que por a hipótese de criar mesmo esta afiguração, tantas são as alusões a este perfil, para mim desconhecido.
Reflecti…
Encontrei duas justificações, que podem servir separadas, embora para mim, elas coexistam.
Iniciei a minha carreira como treinadora aos 19 anos. Talvez inconscientemente, tenha criado uma imagem rígida e severa, para me proteger da minha tenra idade.
Não é, e não foi fácil, criar uma imagem de credibilidade para pais e atletas, com apenas 19 anos… Talvez me tenha refugiado na imagem de arrogante e prepotente, para me defender. Mas se essa imagem existia nessa altura, ela era mesmo, como diz o velho ditado, “para inglês ver”, pois acho que nunca fui tão humilde e carente de ajuda, como naqueles anos iniciais… Nunca ouvi tanto… Nunca tanto procurei ouvir e aprender…
Mas hoje, não sinto necessidade de me proteger. Porque continuarei a manter essa imagem?
Talvez ela se tivesse enraizado em mim e tornado numa imagem de marca… Uma imagem, que não vende definitivamente para as bancadas, mas continua a vender no balneário, curiosamente, junto das que mais sabem que essa imagem é uma mentira… Paradoxo este, que não consigo explicar… apenas sei que funciona.
Depois entra a personalidade própria…
A maioria a nossa sociedade, continua a confundir frontalidade, com arrogância e prepotência…
Não sorrio quando não me apetece sorrir, nem a quem não me apetece sorrir… Não falo com quem não me apetece falar… Não sou simpática só porque deveria ser, não gosto de toda a gente, muito menos à primeira vista… E aqui a lista seria extensa…
Se esta última parte, à qual chamo “personalidade própria”, faz de mim alguém arrogante… então a descrição do meu perfil não é uma brincadeira, eu sou mesmo tudo isso. E sendo assim já não me incomoda…
Sabem a melhor parte? Se assim for, orgulho-me em ser tudo isso que crio à primeira vista, e tudo farei para que nunca mude.
Talvez não seja eu que estou errada, talvez seja a vossa tabela de valores… Talvez sejam os vossos olhos… E aí nada posso fazer… Esse é o vosso trabalho…
A vossa introspecção!

domingo, 13 de setembro de 2009

Tabatha


Sábado…
Hoje acordei cedo…
Deitada no preto sofá da sala, resta-me um zapping pela televisão, na esperança que algo de interessante me ocupasse, até à hora dos normais mortais acordarem, para mais uma vírgula da vida…
Paro num dos meus canais de eleição, a Fox Life, embora a esta hora, até mesmo aqui, seja difícil encontrar algo de interessante que me distraia. Não está a passar nenhuma das minhas séries predilectas.
«Ao estilo de Tabatha», é o que a programação me reserva. Uma famosa cabeleireira americana tenta dar um rumo sustentável, a salões decadentes que esbarram a falência.
Não me interesso por remodelações em salões de cabeleireiro, mas mesmo assim, colei no ecrã. Tabatha, não pretendia mudar só o aspecto físico dos salões, ou aperfeiçoar as técnicas utilizadas pelos funcionários… queria mudar também a mentalidade de todo o clã do salão, acomodados aos erros e agruras do dia-a-dia. Ela queria vender-lhes vida, vender-lhes uma alma.
Gostei!!!
Gostei ainda mais, por se tratar de uma mulher, que a sociedade define como arrogante, prepotente, inconveniente… Todos lhe reconheciam o talento, mas muito poucos, o modo como se exprimia.
A mim, pareceu-me uma mulher sincera, directa, que não utiliza eufemismos para uma verdade dolorosa, mas verdade.
É de facto algo a que poucos estão habituados, e menos ainda, os que estão aptos a enfrentar tal personalidade.
A meio do programa, Tabatha define uma das funcionárias: sem um sorriso na cara, enumerou todos os seus pontos fracos (concordei com tudo), a funcionária, essa não aguentou, e correu para outro compartimento do salão aos prantos. Atrás dela seguiu uma vasta comitiva de consolo.
Todos demonstravam pena da funcionária, repetindo incessantemente: «coitadinha», toda a equipa a consolava, como se uma catástrofe tivesse abalado todo o seu mundo e posto em causa toda a sua vida. Como se ela, não tivesse apenas ouvido um rol de verdades, que alguém já deveria ter feito, em prol do desenvolvimento sustentável da empresa.
Ao mesmo tempo, recriminavam a cruel, a arrogante e fria Tabatha.
O monstro que tinha dito a verdade, no seu estado mais puro.
Fez-me pensar…
Decididamente a nossa sociedade não está preparada para ouvir as verdades dolorosas, muito menos de um modo tão frontal e directo. Catalogando de imediato os emissores, de arrogantes e prepotentes, afastando-os… preferindo a seu lado, as mentes subjugadas que os acalentam com omissões.
Esta é uma sociedade, que prefere sempre tomar partido, da parte frágil que chora, mesmo que a razão não acompanhe as lágrimas. A sociedade dos pobres coitados… Que protege a fragilidade da personalidade e a inércia.
Mais chocante ainda, é a não aceitação da personalidade diferente, da verdadeira, da razão… sendo logo rotulada de adjectivos poucos dignificantes e construtivos.
Permitimos que os fracos chorem, no lugar de enfrentar a verdade e dar passos em frente, e crucificamos o emissor da pura mensagem, só porque não coloca um sorriso nos lábios, não usa um discurso político, ou lhe conta essa mesma verdade chorando também, e fazendo-lhe crer, que também para ela aquela conversa está a ser dura.
Sim, há pessoas arrogantes…
Mas parem e pensem, no que é realmente a arrogância. Porque, a barreira com a frontalidade é ténue, mas existe…
Tabatha, como te compreendo...