domingo, 13 de setembro de 2009

Tabatha


Sábado…
Hoje acordei cedo…
Deitada no preto sofá da sala, resta-me um zapping pela televisão, na esperança que algo de interessante me ocupasse, até à hora dos normais mortais acordarem, para mais uma vírgula da vida…
Paro num dos meus canais de eleição, a Fox Life, embora a esta hora, até mesmo aqui, seja difícil encontrar algo de interessante que me distraia. Não está a passar nenhuma das minhas séries predilectas.
«Ao estilo de Tabatha», é o que a programação me reserva. Uma famosa cabeleireira americana tenta dar um rumo sustentável, a salões decadentes que esbarram a falência.
Não me interesso por remodelações em salões de cabeleireiro, mas mesmo assim, colei no ecrã. Tabatha, não pretendia mudar só o aspecto físico dos salões, ou aperfeiçoar as técnicas utilizadas pelos funcionários… queria mudar também a mentalidade de todo o clã do salão, acomodados aos erros e agruras do dia-a-dia. Ela queria vender-lhes vida, vender-lhes uma alma.
Gostei!!!
Gostei ainda mais, por se tratar de uma mulher, que a sociedade define como arrogante, prepotente, inconveniente… Todos lhe reconheciam o talento, mas muito poucos, o modo como se exprimia.
A mim, pareceu-me uma mulher sincera, directa, que não utiliza eufemismos para uma verdade dolorosa, mas verdade.
É de facto algo a que poucos estão habituados, e menos ainda, os que estão aptos a enfrentar tal personalidade.
A meio do programa, Tabatha define uma das funcionárias: sem um sorriso na cara, enumerou todos os seus pontos fracos (concordei com tudo), a funcionária, essa não aguentou, e correu para outro compartimento do salão aos prantos. Atrás dela seguiu uma vasta comitiva de consolo.
Todos demonstravam pena da funcionária, repetindo incessantemente: «coitadinha», toda a equipa a consolava, como se uma catástrofe tivesse abalado todo o seu mundo e posto em causa toda a sua vida. Como se ela, não tivesse apenas ouvido um rol de verdades, que alguém já deveria ter feito, em prol do desenvolvimento sustentável da empresa.
Ao mesmo tempo, recriminavam a cruel, a arrogante e fria Tabatha.
O monstro que tinha dito a verdade, no seu estado mais puro.
Fez-me pensar…
Decididamente a nossa sociedade não está preparada para ouvir as verdades dolorosas, muito menos de um modo tão frontal e directo. Catalogando de imediato os emissores, de arrogantes e prepotentes, afastando-os… preferindo a seu lado, as mentes subjugadas que os acalentam com omissões.
Esta é uma sociedade, que prefere sempre tomar partido, da parte frágil que chora, mesmo que a razão não acompanhe as lágrimas. A sociedade dos pobres coitados… Que protege a fragilidade da personalidade e a inércia.
Mais chocante ainda, é a não aceitação da personalidade diferente, da verdadeira, da razão… sendo logo rotulada de adjectivos poucos dignificantes e construtivos.
Permitimos que os fracos chorem, no lugar de enfrentar a verdade e dar passos em frente, e crucificamos o emissor da pura mensagem, só porque não coloca um sorriso nos lábios, não usa um discurso político, ou lhe conta essa mesma verdade chorando também, e fazendo-lhe crer, que também para ela aquela conversa está a ser dura.
Sim, há pessoas arrogantes…
Mas parem e pensem, no que é realmente a arrogância. Porque, a barreira com a frontalidade é ténue, mas existe…
Tabatha, como te compreendo...

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