domingo, 2 de agosto de 2009

Mourinha

Muitos são ao longo dos anos, os que me têm perguntado, a origem da alcunha Mourinha, com que me tratam as minhas atletas e alguns adeptos. É este o nome que se houve gritar nas apresentações, que circula nos fóruns, nas bancadas, em conversas… e há ainda a famigerada música, interpretada pela equipa, a cada título conquistado…
Pois bem… Podia começar, ao jeito dos contos infantis, com um: “Foi há muito, muito tempo…”
Mourinha, deriva como sugere, da analogia a esse ícone de treinador: José Mourinho.
Era ainda o Mourinho treinador do FC Porto, bem nos seus inícios, quando a comunicação social e muitos adeptos, começam a falar de um termo, hoje muito vulgar, o treino psicológico.
Os média deliciavam-se e deliciavam-nos, com os famosos “Mind Games”, do carismático treinador…
Bem longe do mediatismo atribuído ao Mourinho, a equipa identificava alguns dos seus jogos psicológicos, utilizados por mim. Tudo isto, claro, à escala de uma treinadora menos experiente, de um campeonato menos exigente, mas sobretudo de um mundo muito mais esquecido, e menos mediático.
No balneário, começavam a surgir então, as comparações com o Mourinho. Dado que as preocupações, ao nível do treino psicológico eram tão vagas, era fácil, alguém fazer-se notar.
A alcunha carimba-se com um episódio, que é para mim um misto, de boas e dolorosas recordações.
No fim-de-semana anterior à minha primeira final distrital, disputávamos um jogo, que só servia para cumprir calendário, pois já estavam encontradas as duas finalistas. Curiosamente, este jogo, opunha as mesmas equipas, que no fim-de-semana seguinte, disputariam o título distrital.
Para esse jogo, o presidente do Concelho de Arbitragem Distrital (CAD) de Braga, nomeou um árbitro para apitar o encontro. Tudo normal, não fosse o presidente do CAD, o árbitro e o treinador da equipa adversária, a mesma pessoa!!!
Resultado: o jogo não terminou e eu havia sido expulsa…
Imagino que agora todos esperavam ler as ocorrências daquela partida, talvez isso fosse a parte mais interessante deste texto. Lamento, mas não vou contar… Não sei quem vai ler este texto. Pode ser lido por crianças, ou mais tarde, pelos meus próprios filhos… Acontece, que não encontro adjectivos para contar esta história, que possam ser lidos por crianças, ou mentes mais conservadoras e pudicas.
Desse jogo guardo tudo…
Lembro-me que chorei imenso em casa, pois aos 21 anos tinha alcançado a minha primeira final Distrital, e não a iria ver do banco…
Mesmo consciente da armadilha preparada, culpei-me por essa ausência. Eu e a minha ingenuidade, própria de início de carreira, permitiram que a verdade desportiva não imperasse, e aqui a patinha, ia mesmo ver a final da bancada.
Foi a minha primeira grande lição!
Chegou o dia da ansiada final.
Apenas me foi permitido dar a palestra no balneário… Lembro-me tão bem dos disparates que lhes disse, para as tranquilizar… Foi a minha primeira grande palestra, e para mim, das melhores que já fiz…
Dias, ou semanas antes, uma polémica arbitragem que prejudicou o FC Porto, levou o Mourinho a proferir a seguinte frase: «Em condições normais, seríamos campeões, em condições anormais, também seremos campeões.»
Foi com essa frase, que concluí a minha palestra…
Em uníssono, a equipa levanta-se, e abraçando-me, ouviu-se: “Mourinha”
Foi assim que tudo começou…
Depois veio a música, com que as minhas compositoras improvisadas, me presentearam: “Lá, lá, lá… Mourinha… Lá, lá, lá… Guerreira… Lá, lá, lá…. Amiga…. Eterna e verdadeira…” Esta é a ode, com que me presenteiam a cada conquista, a cada título…
O nome passou do balneário para as bancadas, das bancadas para os sites e fóruns… e assim nasceu a Mourinha.
Fenómeno que vai desaparecendo, vou deixando cada vez mais de ser a Mourinha, para me tornar a Patrícia Atilano. Agrada-me! Embora esta alcunha me tenha acompanhado, em muitos dos dias mais felizes da minha vida.

3 comentários:

  1. Atrás de um nome, ou atrás de uma alcunha se esconde uma grande treinadora :D PARABÉN POR TUDO PATRICIA. Beijos

    ResponderEliminar
  2. Alcunha de mestre, historia de guerreira.
    Despeço-me com a frase que puderá descrever a próxima época : «Em condições normais, seríamos campeões, em condições anormais, também seremos campeões.»

    ResponderEliminar